Planeta do Kaioh

"Huh?" a pergunta tão repentina da rapariga quase ia fazendo Josuke se desiquilibrar nos seus paços, perdendo mais terreno em relação à rapariga. Que caralhos, para quê que uma rapariga daquelas lhe estava a fazer perguntas dessas? Até o condutor se estava a rir, sentado no carro do Kaioh de camisa aberta posando.

"Eu tenho assuntos pendentes lá em baixo, e lutar sempre foi a única maneira que conheci para a fazer..."
Sim, Jojo era um homem de punhos e não de palavras. Se alguém se mostrava resistente à razão e ao bom senso, então para Josuke o curso de acção mais lógico era dar-lhe um murro na cara. Mas para isso, tinha de ser forte para não levar outro murro na cara logo a seguir.

"...E não posso ficar quieto sabendo o monte de merdas que andam a fazer lá."

... Oh. Fixe, mii. - e a dúvida de Rika pareceu parar por ali. Ela continuou a ganhar distância nos saltos. - Eu estava em dúvida, mi. Não parecias estar a se esforçar muito, então queria saber. Mas é fixe ter um Hero of Justice, nipah. - os movimentos não paravam, Rika prosseguia sua pose de bailarina.

Um sorriso meio distorcido formou-se na face de Josuke. Aliado da Justiça? Tal titulo era tão mal empregue nele que não conseguia deixar de achar piada, colocando mais força de modo a dominar melhor aquela gravidade.
"Lamento desapontar, mas não me identifico muito com o Aliado da Justiça."
Tentou se aproximar outra vez da rapariga, apropriando-se cada vez mais das condições. "Se eu vejo alguém fazendo merda, eu dou-lhe um murro."
Deu um salto alto, parecendo dar uma pirueta como se a tentar imitar os movimentos de Rika.
"Se alguém faz merda com alguém que me seja querido, eu dou-lhe um murro e uma perna partida."
Quando aterrou sentiu todo o seu peso multiplicado a doer-lhe os ossos, mas Jojo manteve o seu Breathing, de tão importante que era psra tudo o que fazia.
"Alguém assim nunca será um gajo que espalhe justiça. Alguém como eu nem consegue ser um líder por mais que Oji-san queira.

Sou apenas alguém que procura Revolucionar o mundo ao esmurrar a cara dos Deuses."

Mas a definição de herói é esta, nipah. Alguém que impõe sua própria visão de mundo egoísta e oportunista sobre os outros através de violência até que não haja ninguém vivo para discordar. - disse Rika, ainda recuando, até que, de súbito, parou. - Queres que eu pare para ires bater em quem não gostas, nipah?

Vendo Rika parar, Jousuke simplesmente enterrou os pés no chão, parando a sua perseguição. "Podes continuar a correr, senão o teste é basicamente inútil, e sem sair daqui com aquilo que quero, não vale a pena nem consigo ir bater em ninguém agora."

O vento soprou. Mesmo a gravidade estranha do planeta seguia alguns princípios bastante rurais; imaginava-se uma fazenda calma naquele local, longe dos conflitos da Terra. O ar traduzia o ritmo e pensamentos dos moradores: Rika estava parada, ao encará-lo sem nenhuma emoção em destaque, e o Kaioh acabou por bocejar e bater na barriga.

Foi um excelente almoço, não foi? Rika-kun, um intervalo para tomarmos café? - perguntou com calma de um homem zen; não parecia ter nenhuma preocupação no mundo. - Jousuke-kun, não tenhas pressa, o tempo é mais flexível do que pensas. Um intervalo fará bem a todos nós, neste instante. Dê uma volta, uma caminhada por aí, o planeta é modesto mas o ar aqui é bom para caminhar, sim? Queres um pouco de café? Retomamos depois.

Rika relaxou seus músculos.

Yah, nipah. Vamos repousar.

A implicação era clara. Se Jousuke não se esforçasse sozinho para se habituar ao planeta, capturar Rika seria impossível. Ambos os moradores se retiraram de volta para a casa, e era escolha do Minami se os acompanhava ou se treinava. Havia objetos pesados ao redor e todo um local para correr. A escolha era dele, de facto.

“Eu fico por aqui” disse logo Jojo enquanto a divindade e a sua ajudante voltavam para casa. O jovem então tinha então um planeta inteiro para treinar. Um planeta do tamanho de um prédio mas com uma gravidade várias vezes maior que a Terra. Tinha de aproveitar aqueles momentos enquanto estava sozinho para conseguir melhorar a sua performance naquelas condições e assim apanhar a pequena rapariga.
“Agora que penso nisso, esta situação podia facilmente ser mal interpretada fora de contexto.” Reparou ele, enquanto começava a correr às voltas do planeta.
Queria treinar maioritariamente as pernas agora, pois seria o que precisava mais para conseguir ultrapassar a primeira fase do treino com o Kaioh.
Gradualmente estava a conseguir melhorar o seu controlo naquela gravidade. Aliás, logo antes de terem parado já se sentia quase a apanhar Rika.
As pernas doiam-lhe, e por isso Jojo tentava manter a sua Respiração para se aliviar. Já à horas, não, dias sem fim que apenas não fazia mais nada sem ser andar, correr, saltar e etc. Tudo isto desde que tinha morrido.
Por isso acabou por parar um bocadinho depois de mais uma hora a correr. Haviam vários apetrechos pelo chão, que pareciam instrumentos de treino. Havia certamente de haver algo que pudesse servir para treinar.
Aproximou-se de um altere. Bem, ao menos podia fazer as coisas de uma maneira ligeiramente diferente, pensou Jousuke, enquanto arqueava os braços para aquecer, antes de colocar as mãos no cabo.
“Urrrgh. Pesado foda-se” queixou-se ele, enquanto empenhava toda a sua força, mas sem usar Star Platinum, porque isso seria batota.
O peso do altere devia de ser algo monstruoso. Obviamente, com aquela gravidade toda, não só o peso de Jojo aumentava, como também o peso de basicamente todos os objetos que estivesse por ali. Portanto mesmo um altere de tamanho modesto teria o seu peso multiplicado. A juntar o fato de provavelmente o material ser alguma coisa que não existia na Terra, e aquilo se tornava uma monstruosidade.
“Ggrgggrhhrg” Lentamente Josuke levantava o altere, levando-o para cima dos ombros. Tendo-o em cima de si, Jojo tentou dar uns paços em frente. Cada paço enterrava os pés na terra, o que dificultada a caminhagem, já para não falar do peso do altere que ameaçava ainda causar problemas de coluna no rapaz.
4 paços
7 paços
Não conseguia muito. Jojo estava a trabalhar muito além dos seus limites e sentia os ossos presetes a rachar, foi então que num rasgo de desespero, uma espécie de atiro de toalha, usando a força do seu Stand para atirar o altere para o chão, livrando do peso e causando um grande buraco no chão.

“Fogo, até senti o tremer disso” pensou Jojo, enquanto se deitava no chão, de olhos voltados para aquele céu que não era azul, e cujas nuvens eram amarelas.
“A sério que raio de dimensão.”

Jousuke-san? Voltemos ao trabalho, nipah? - Rika já estava diante dele, deveria ter observado por algum tempo. Ao longe, o Kaioh observava com uma caneca de café à mão.

"...Ya." disse o rapaz, levantando-se logo rapidamente. Agora sim, agora desta vez é que iria apanhar Rika.

Kaioh-sama, podemos começar? - Rika já havia dado uma distância de dez metros entre ela e o rapaz. Tinha as mãos escondidas às costas e o corpo curvado, indo de um lado para o outro como um rapariga no ponto depois de sair de uma festa e esperar a chegada do auto.

Podem começar. Se Jousuke-kun te apanhar desta vez, Rika-kun, posso considerar mandar uma mensagem para os seus amigos lá na Terra. Isto é motivação suficiente?

Sem dar muitas hipóteses de responder, Jousuke lançou-se como um trovão atrás de Rika. Por instantes a oferta do Kaioh chamou-lhe a atenção, porque não lhe tinha passado pela cabeça a hipótese de poder contactar os companheiros, mas agora não era altura para pensar sobre o que ia dizer e a quem. Tinha de apanhar a rapariga primeiro que tudo.

Com destreza quase leonina, Rika chutou o chão abaixo com força e se mandou para trás, na mesma proporção que Jousuke. Não arriscaria de se mover para os lados precipitadamente agora; a condição em que ele podia lhe alcançar era outra. Só se via os longos cabelos azuis contra o vento, sua leveza lhe atribuía uma postura fantasmagórica. Quem era ela? Que rapariga era aquela que vivia naquele planeta, naquela idade e com tanto poder, velocidade e predisposição física? Havia de ser algo estranho. Jousuke não teria tempo para cogitar isso; as entrevistas ficavam para depois.

Ela começou a rodopiar no pouco ar entre ela e o chão e a pousar as mãos contra o solo, ganhando impulso de novos empurrões circenses. Ora com as pernas, hora com os braços, ela não dava espaço para nada além de tentar lhe superar a velocidade.

A situação estava melhor, Jojo sentia mesmo quase a apanhar a rapariga, já não era como antes que estava desorientado, "ORA!". Com força chutou o solo para dar mais balanço, e ainda estendeu o braço.
"Desculpa, mas tenho de te agarrar." disse ele enquanto ia a toda a velocidade com o braço estendido, com a mão aberta a dirigir-se à cara da rapariga.

Desculpa, mas não posso permitir. - e, com uma solene mão estendida até o chão, ela mudou completamente o rumo de suas esquivas, formando um ângulo entre ela, Jousuke e sua posição anterior que não dava muita abertura para o oponente frear e se redirecionar sem que ela ganhasse muita distância. Agora que o Minami tinha a velocidade necessária, ainda restava lidar com as acrobacias. Rika era felina; se os movimentos dele eram de trovão, os dela eram de um gato astuto que sentira no ar as precipitações e desviou sem chamuscar.

Rika agora estava usando outra vez das suas acrobacias para evitar o toque de Jojo. Jojo tinha assim de mudar o seu rumo rapidamente. O problema naquelas situações era a inércia que acumulava do seu lançamento, por isso enfiou um pé no chão, tentando transferir toda aquela energia numa pirueta para se virar para a rapariga. Tais tipos de movimentos eram reminiscentes dos que o seu antepassado usaria na sua Wing Road. Controlo do centro de gravidade, um dos pontos principais, e de certa forma era o que Jojo tentava para transferir rapidamente a sua inércia para a direcção que queria. "Anda lá piquena vem cá!"

Algo no semblante de Rika sofreu uma breve transformação do calmo e alienado ao sentimento de seriedade. Jousuke estava a usar da inteligência junto da proeza física, e agora estavam em estados equilibrados. A jovem, recuando, meteu os pés contra uma árvore e a usou de impulso muito maior do que o solo, seus movimentos lembrando os de uma pequena pedra que salta ondas numa lagoa. O Kaioh observava tudo com grande interesse, estendendo a cabeça para frente.

Rika se habilitou de apanhar um dos objetos usados no treino do Minami e de lhes colocar no caminho, fazendo uma trilha que seria difícil de suprir. Mesmo que Jousuke saltasse, não seria alto o bastante ou longe o bastante, por ali, para não se atrapalhar com a trilha de obstáculos. Poderia rondá-la, é claro, mas este caminho era maior e não se sabe a distância que Rika atingiria naquele meio-tempo. O que faria?

Escapando-se mais uma vez a Jojo, Rika agora enchia o espaço entre eles de utensílios de treino, criando uma espécie de caminho de obstáculos. Jojo podia seguir um caminho mais complicado mas direito e rápido para a rapariga, ou atrasar-se circundando o espaço. "Não há tempo pa atrasar-me", e foi de cabeça contra o caminho mais perigoso, saltando mesmo nos utensílios.

Era algo de facto arriscado de se fazer, pois rapidamente poderia magoar-se se tropeça-se em algo. Mas desde que mantivesse a sua concentração, Jojo lá conseguia, nem que tivesse lá de vez enquanto de se baixar para usar as mãos como um novo suporte.

"Quase..."

Quando chegou ao último obstáculo então deu um grande pontapé nele para se lançar outra vez.

Rika puxou um objeto. Havia tantos espalhados, que sem dúvida era havia se treinado para desviar deles sem problemas ao longo do caminho. Era uma jovem cada vez mais impressionante, e desta se apoderou de um dos obstáculos final para lançar contra o Minami. Não apenas evidenciava força física, como erguia a pergunta: Ele poderia se desviar ou saltar, ainda assim poderia perder tempo enquanto ela se afastava em linha reta. Todos os seus poderes sobrenaturais estavam proibidos, e a gravidade maior daquele planeta tornava os objetos mais pesados, mais duros, e mais difíceis de lidar. A opção mais rápida era tomar com ele de frente. O que faria?

Agora havia algo que Rika estava a atirar contra Jojo. Não havia limites para o que a rapariga iria fazer para impedir o rapaz de apanhar, e mais uma vez toda aquela cena pareceria estranha se fosse tomada fora de contexto. Para manter o ritmo da coisa, Jojo não podia parar agora. Parar aquilo sem o Stand era suicídio, e Jojo sabia-o depois de ter experimentado mexer com o altere de à bocado.
Saltar por cima seria provavelmente muito difícil, mas ir por baixo seria mais suicida, porque rapidamente acabaria por ser obrigado a levar com o peso deste.

Por isso acabou por saltar. Metendo as mãos por cima do objeto, Jojo usou-o como um apoio para saltar mais alto, evitando-o por cima.

Jousuke fez o movimento viável que Rika esperava, e ela continuou a recuar em linha reta com velocidade enquanto ele permanecia no ar sem poder ganhar qualquer tipo de impulso ou mudar sua trajetória. Afinal o teste ainda não acabaria tão rápido; a jovem estava usando todos os seus recursos para ganhar do rapaz até ele se exaurir.

Ao ultrapassar o peso arremassado, Jojo então usou-o para poder voltar rapidamente ao chão.
Assim, com a sementes da vitória perante ele, Jojo foi colher-las.

Rika não aguardava que ele fosse usar o peso para voltar rapidamente ao solo. A distância que havia conquistado não demoraria a ser ultrapassada por ele, mas já não tinha vontade de agir de outra forma. Continuou a recuar sabendo que ele poderia vencer a qualquer instante.

Tava quase, quase estava feita aquela merda de situação que seria díficil de explicar se alguém chegasse ali. Por isso quando estendeu a mão para tentar tocar na rapariga, apenas desejou que fosse rápido e que não tocasse acidentalmente nalgum lado que o levasse diretamente para a cadeia.

Estavam frente a frente, e a mão de Jousuke avançava para capturar Rika e pôr fim ao teste. No entanto, apesar dela não ter mais lados para onde fugir, começou a se esquivar como se esquivasse de um soco no torneio de boxe. Aos poucos, ela assumiu a posição de uma pugilista adulta e começou a se desviar enquanto ainda recuando. Não podia mais fugir de Jousuke, mas poderia evitar que ele a tocasse por mais algum tempo.

"Queres jogar esse jogo então?" constatou Jojo quando reconheceu a posição da rapariga como uma de artes marciais, preparando também os seus braços, abrindo-os como os membros de um animal. As mãos pareciam mais agressivas, com os dedos servindo como os dentes de um animal.
A razão de tal posição mais bruta era fruto da crescente frustração de Jojo com aquele treino, mas em grande parte porque o kenpo dele não tinha um estilo específico, por isso era adaptativo às suas emoções e situações. Naquela em específica, Jojo era como um animal a tentar apanhar a sua presa.

Assim, ataques fluíram dos braços de Jojo, como uma matilha de lobos lançando-se à sua presa.